sábado, 30 de novembro de 2024

Tragédia Marítima

Um garotinho brincava sozinho à beira-mar. Ele corria, ameaçava entrar na água e depois voltava para a areia, (como é o comportamento natural das ondas...) Existia um enorme silêncio na praia e o garotinho brincava sozinho, calado, sorrindo. De repente surgiu uma onda enorme e o pegou. O garotinho na onda se enroscou, e na onda se afogou...

sexta-feira, 15 de novembro de 2024

A Mansão

Eu visito a mansão, e penso que o meu corpo ali não cabe. A casa é muito grande para uma só pessoa... Eu ando pela casa, como se estivesse andado por um imenso parque, por uma imensa floresta ou por uma imensa selva... O meu corpo se perde nos mínimos centímetros e detalhes. Sinto-me um bebê confuso naquele mundo arquitetônico. A casa é tomada por ausências e por silêncios. O silêncio e a ausência são tão grandes, que a construção fica sendo para lá de ensurdecedora. Eu falo, eu grito, e o eco devolve o som da minha voz numa velocidade e numa qualidade infinitas... A minha estatura é muito pequena para caber nesta geografia... Admiro a sua beleza e a sua imponência de forma muito distante e fico encantado de como a casa abarca todo o meu corpo. E de como dentro dela, de tão bela e de tão grande, sinto-me assim, tão insignificante...

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Ouvindo o Silêncio da Terra

Ajoelho-me neste campo, ajoelho-me neste pasto, encosto o meu ouvido bem rente ao chão, fecho os olhos, e ouço o som que brota por de baixo do silêncio da terra... Para entender o que a terra diz, é só fechar bem os olhos, abrir bem os ouvidos. Há no silêncio do pasto, há no silêncio do campo, e há no silêncio da terra, um som que só quem tem ouvidos para escutar pode e consegue escutar... Se eu fechar bem os olhos, abrir bem os ouvidos e me concentrar, eu consigo escutar o som que brota por debaixo do silêncio da terra... Pois há no silêncio da terra, um som que só brota por de baixo do silêncio da terra!

domingo, 10 de novembro de 2024

Encontro

Eu fico mudo, você também. Nos olhamos profundamente, chegamos mais perto um do outro você não me conhece e eu também não, mas os nossos corpos falam por si. Os nossos corpos se encaixam, se adaptam perfeitamente um no outro. Nos damos às mãos, nos abraçamos, dançamos uma dança, qualquer dança. Colamos nossos rostos um no outro... O seu corpo se encaixa, o seu corpo se adapta perfeitamente ao meu... Eu não sei nada sobre você, e você não sabe nada sobre mim. Mas os nossos corpos são perfeitos um para o outro... Aliso o seu cabelo, sinto o seu cheiro, chego o meu rosto cada vez mais perto do seu e beijamos! Eu não te conheço e você também não. Mas naquele momento, (como em todos os momentos...) por completo, nos apaixonamos... O amor, ás vezes, não necessita de palavras, no amor, ás vezes, apenas o silêncio basta!

sábado, 9 de novembro de 2024

Fazenda Fantasma

O orvalho cai sobre o pasto... Existe um enorme silêncio em todo o campo, existe uma enorme ausência também. Há uma escuridão sem fim. Nenhum bicho, nenhum homem ao redor, apenas um pasto coberto por um orvalho branco e infinito. Uma lua cheia vagueia lá no alto e tudo ilumina... A sede está toda apagada, e apagadas estão todas as luzes da varanda... A fazenda está silenciada, um silêncio sem fim... Um vento forte da madrugada passa, uiva sem cessar, e varre todos os pastos. Balança os pendentes pendurados no teto. Todas as velas estão apagadas. Não há nada, nem há ninguém. Há apenas uma imensa fazenda, vazia e condenada. Um enorme túmulo de homens e de animais!

Tatuagem (Para Marcelo Gomes Féres)

Há quarenta anos, meu tio tatuou um beija-flor no omoplata, (com todo o silêncio que existia e que existe no seu corpo...) Com o passar do tempo, a pele envelheceu, a tatuagem do corpo se soltou e o beija-flor voou...

quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Breu

Noite, só noite! Nenhuma estrela, nenhuma lua para iluminar... A escuridão é profunda e infinita, o breu é profundo e infinito... Não há mais chão, não há mais céu, e nem há mais paredes... Apenas breu, apenas escuridão... Um breu e uma escuridão onde eu me perco, um breu e uma escuridão onde eu não me acho... Um breu e uma escuridão, onde eu e meu corpo infinitamente flutuamos... O meu corpo se perde de si e sai flutuando neste breu e nessa escuridão sem fim. Apenas breu, apenas escuridão, onde eu e meu corpo nos perdemos, onde eu e meu corpo flutuamos infinitamente e sem gravidade... Aonde o meu corpo chegará... Onde o meu corpo parará... Apenas breu, apenas escuridão, e um espaço sem fim...

Contemplando

Noite cheia de estrelas... (Me lembra uma canção...) Eu deitado na rede nesta varanda contemplando a noite... Vejo mil estrelas brilhando lá no alto e sinto uma saudade imensa. Ah, como eu gostaria que você estivesse aqui comigo agora... Agora e para sempre... As estrelas iluminam a noite, a varanda, a rede e o meu corpo por inteiro... Sinto o silêncio que abarca todo o espaço e não há mais nada ao redor apenas eu,a noite, a rede, a varanda e mil estrelas brilhando, brilhando e brilhando... Como sempre, para sempre, meu amor, meu grande amor, Ah...

terça-feira, 5 de novembro de 2024

Nossos Silencios

Ah, o seu corpo é tão bonito... Venha, deite comigo nesta cama... Deixe que eu percorra as minhas mãos sobre você, sobre o seu corpo por inteiro... Não, não fala, não diga nada, deixe-nos curtir o silêncio, o silêncio que agora, e que em todas as horas, existe nos nossos corpos. Deixa o amor falar por si. Eu não quero saber nada sobre você e você não quererá saber nada sobre mim. Apenas nos abraçamos, apenas nos beijamos, apenas nos amamos por inteiro nesta cama... Os nossos silêncios é uma forma de nos entregamos completamente um para o outro. Para que palavras, para que barulhos, se o silêncio basta a todo o amor do mundo!

segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Ausência de palavras

Você estava linda. Quando eu te vi, te vi sozinha no salão daquela festa. Fui chegando mais perto e peguei em suas mãos. Dançamos juntos uma valsa. Cheguei o meu rosto mais perto do teu rosto, te abracei e beijamos. Depois te levei até a uma cadeira você se sentou no meu colo e ficamos. Ficamos a festa inteira, ficamos a noite inteira. Perguntei o seu nome e você me respondeu: "Beatriz".... Não falamos mais nada depois disso, mais nenhuma palavra. O amor, a atração,às vezes, Beatriz, não precisa de palavras, o silêncio, Beatriz, já basta!

domingo, 3 de novembro de 2024

Natureza Morta (Para Carlos Telles)

As mãos são hábeis, e o pintor pinta o quadro mais lindo... As frutas na fruteira, em cima da mesa no centro da sala. O pintor mira atenta e profundamente sobre a mesa e pinta nos mínimos detalhes. (Uma beleza!) (como ele é criativo e talentoso!) O quadro fica pronto, o quadro fica lindo! Ele vai à leilão. E de tão bonito é arrematado a um preço custando os olhos da cara! O pintor recebe em dinheiro vivo, o valor de uma natureza morta!

Um Cadáver

Um plástico preto cobrindo o seu corpo. As pessoas na Lagoa Rodrigo de Freitas todas param para ficar olhando para o seu cadáver. Você não está mais ali, nem em lugar nenhum. Você não sente mais o asfalto sob o seu corpo. O seu corpo agora (e para sempre) está inerte. Você neste momento (e para sempre), não existe mais. As pessoas passam, param, e ficam apenas olhando para àquele plástico preto. As pessoas que passam, sim, elas existem (e como existem!) Eu ando pela lagoa rapidamente e me deparo com o plástico preto cobrindo o seu corpo. assusto-me, espanto-me, e ando em volta da lagoa sete quilômetros. (Como se fugisse assustado de você...) segundos depois, somos completamente indiferentes um ao outro...

Um Cão

Um cão dorme em frente a um banco no Mercado São Sebastião... Mil pessoas passam, trafegam sem cessar e o cão fica sempre lá, de olhos fechados, dormindo, respirando profundamente... O cão dorme em paz, ninguém se atreva à se aproximar e a mexer com ele. O cão dorme sob um sol escaldante. O animal neste momento, não sabe, nem conhece o mundo... Ele, neste momento, desconhece inclusive a própria vida... Mil pessoas passam na frente, atrás e ao seu lado, e o cão fica sempre lá, sonolento, dormente, respirando lentamente... Shi... Não acorde o cão, deixe-o em paz. Ele está dormido, e a paz do animal, neste momento, e a coisa mais sagrada do mundo... Eu estive lá, na Penha, e vi esse bicho. Ele é um vira-lata lindo, de pêlo cinza, um animal que jamais poderá ser despertado. Deixe-o dormir, deixe-o em paz, indiferente à vida, indiferente ao mundo. Nao morto, Mas dormindo o sono dos justos!

Velha Cadeira de Balanço

Ah, velha cadeira de balanço... Uma senhora dorme balançando, balançando, balançando... Uma senhora bem idosa, com mais de cem anos, conta as horas. Uma idosa de cabeça branca, de olhos fechados, sonolenta, balançando em sua velha cadeira no ritmo do relógio... A velha senhora não marca mais o tempo, apenas espera a morte... O relógio dá meia-noite, e a velha senhora, na cadeira de palha, tem uma parada. Só o relógio na parede, é que não pára!

sábado, 2 de novembro de 2024

O Impossível

Cala, não fala... Mantém-se mudo, feche olhos, bocas e ouvidos, todos os sentidos e não sinta nada... Mantém-se inerte, mantém-se sedado, como se você estivesse morto como se você não mais existisse. Imagine um espaço sem nada, sem mar, sem céu, sem chão... Imagine se tudo morresse, imagine se tudo acabasse imagine se tudo extinguisse, e nada mais restasse nem mesmo um espaço escuro oco, vazio e infinito... Imagine se o infinito acabasse, imagine se o infinito não mais existisse, imagine se o infinito se extinguisse, imagine se toda aquela escuridão acabasse imagine se aquele espaço infinito Não mais existisse. Imagine, se o buraco negro também não existisse, imagine, Se o buraco negro também se extinguisse... Imagine, apenas imagine...

Sozinho Num Bar

Encontro-me sozinho num bar... Peço cerveja, acendo um cigarro e o garçom me serve... Estou completamente sozinho, fumo, Bebo, vejo as aspirais do meu cigarro flutuando e sumindo no ar... Já é meia-noite, e já estou completamente embriagado... Olho, miro a lua e a vejo dupla, Depois tripla, Depois vários aspectos de uma mesma. Falo e canto sozinho... Um louco. O garçom me serve mais e mais cervejas, minha cabeça dói, tudo gira, como se eu tivesse numa imensa, enorme e eterna roda-gigante... Não enxergo mais nada, tudo por um minuto escurece, estou completamente bêbado... Peço a conta, o garçom preocupado, Dá-me a carteira onde fica o recibo. A conta veio exorbitante, puxo a minha carteira do bolso não tenho dinheiro peço a maquininha enfio o meu cartão de débito, erro a senha três vezes e o meu cartão bloqueia. O garçom me questiona: “E agora, o que eu faço” Estou completamente bêbado, não vejo, não sinto, nem sei de mais nada... O garçom chama a polícia. Três homens enormes circundam a minha mesa, pegam-me colocam-me algemas, enfiam-me no carro. Levam-me para a delegacia, e sem prestar depoimento, sou preso!

Sequer uma Valsa

Ninguém na rua passando, ninguém na rua andando... Nem as luzes nos postes iluminando... Uma rua escura e vazia... Nenhuma sombra, nenhum vulto se quer nem de bicho, nem de homem e nem de mulher... Nenhum som, nada... Uma rua sozinha na madrugada... Ao redor, casas, apartamentos e estabelecimentos vazios e apagados... Um vento da madrugada passa, e varre as folhas no alto das árvores, varre as flores espalhadas harmoniosamente pelos jardins... É alta madrugada, já são cinco da manhã ninguém acorda, ninguém abre a janela e nem a porta. De dentro dos apartamentos, de dentro das casas, ninguém se levanta, ninguém acende a luz, ninguém liga o som, ninguém ouve, canta e nem dança sequer uma valsa!