quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

O Florista

Eu sou florista e nada sei sobre o amor...
E para ser bem sincero,
eu sou muito triste...
Muito triste para tentar começar a compreendê-lo...
Compreendê-lo,
ou mesmo compreender coisa qualquer...
 Pois o amor, sempre foi todas as minhas impossibilidades...
 Eu apenas vendo flores.
Vendo flores,
e não sei seus nomes.
Vendo flores,
 e não sinto seus cheiros.
Vendo flores,
e desconheço seus gostos.
Vendo flores,
 e ignoro suas espécies.
Vendo flores,
e pouco me importa o seu amor.
Pois o amor,
assim como todos os outros produtos diversos,
(o amor sempre foi um produto muito diverso...)
Assim como as flores,
não me interessa...
 Não sei o que significa
ou que simboliza...
só sei o quanto vale
e o quanto custa...

O desconheço pelo enorme prazer de desconhecer,
o desconheço pelo enorme prazer de ignorar,
o desconheço pelo enorme prazer de o não saber...

É que na verdade eu sou triste,
eu sou muito triste.
Eu sou triste
e não gosto dos homens...
 E por ser assim,
 prefiro-me sozinho...
 Prefiro-me sozinho,
 distante,
e ausente de mim...
 Ausente de mim
 e ausente dos outros...
Pois para mim,
 o amor sem números,
 sem contabilidades,
 sem exatas
e sem lógicas,
é apenas uma expressão
que se pensa,
que se sente,
que se diz
ou que se escreve em vão...

Já estou muito velho do trabalho involuntário que faço,
muito velho da grana involuntária ganho,
 muito velho da vida involuntária que levo,
muito velho desse sol escaldante,
sombrio
e involuntário por sobre mim...
Por sobre mim,
e por sobre minha cabeça...

Um senhor se aproxima,
uma senhora se aproxima,
um rapaz se aproxima,
uma moça se aproxima,
uma criança se aproxima,
um nenê se aproxima,
um cão se aproxima,
um gato se aproxima,
nada se aproxima,
cumprimenta-me,
me sorri,
e eu não consigo...

Eu não consigo,
não porque sou reles
ou porque sou vil...
Não consigo,
por que já são mais de cinquenta anos...
Mais de cinquenta anos quarando por de baixo desse sol...
Esse sol que é mais sombra por sobre minha cabeça,
Esse sol que é mais sombra por sobre mim!

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

O Depoimento De Um Matuto

"Já são duas das matina
e já não moro mais na roça...
Moro é numa ladeira bem grande,
cá na cidade,
bem cumprida...
E de baixo da janela minha,
todas as noite,
nas arta das madrugada,
escuto um trem parecido como um véi á tocar os boi:
"Entra Salvador, passa Estrela...
Entra Estrela, passa Salvador...
oouu, oouu, oouu..."

Ah,
se não existisse a chatura desse véi,
e os raio desses boi,
a ladeira seria muda,
a noite seria surda,
e eu adormia  assossegado...

Mas as roda desse trem
atritanu,
atritanu,
atritanu...

Atritanu sobre os paralelepípedo,
mais as fala desse cabra,
juntando com os mugido desses boi,
é um trem que irrita,
e como irrita sô!

Mais parece os piô dos lamento,
as piô das cantiga...
Desde que eu arresolvi se aposentá
 e se mudei da roça,
na cidade vim morá,
e nessa ladeira vim pará.
Parece que esse véi,
parece que essa carroça,
parece que essa tar de Estrela
e parece que esse tar de Salvador me persegue...

De repente acordo,
abro a janela,
dou só uma espiadinha lá fora,
e a mardita torna a ficá vazia,
torna a ficá silenciosa...
Depois torno a fechá,
botu cardeado e tudo
e o rai da zueira só parece aumentá...

Vai crescenu, crescenu, crescenu, crescenu...
"Entra salvador, passa Estrela, entra Estrela, passa Salvador
 oouu, oouu, oouu,oouu, oouu..."

Ah, má que destino é de nóis
que já não vive mais na roça
e que se muda prá cidade
só em busca de assossego...
má que desgrama sô!
"Entra Entrela,
passa Salvador,
passa Estrela,
entra Salvador,
 oouu, oouu, oouu, oouu, oouu...”

Na Lua (Para Patrícia Castro)

Armei uma mesa na lua...
Com toalha de muitos bordados...
Éramos dois sentados no espaço,
de corpos muito amarrados...
Pois a própria lua esquecia,
a falta que a gravidade fazia...
Quando entre as estrelas surgia,
cometa de forma infinita...
Que no negro espaço escrevia,
por sobre nossas cabeças um nome...
E o nome era Maria...
Seu nome era Patrícia...
Era “Patrícia Maria”,
que por sobre nossas cabeças,
por entre as estrelas,
Fazia aquele cometa…