quinta-feira, 31 de maio de 2007

A primeira pessoa

A primeira pessoa mudou de endereço:
saindo da casa-poesia para morar de baixo da ponte formada pela frase...
Não satisfeita,
A primeira pessoa suicidou-se,
Jogando-se da mesa!

sensações

Sozinho caminho em um cais deserto nesta noite de inverno...
Uma força revolta suga ás águas do mar deste lado...
do outro são objetos feitos de concreto que insistem em trafegar para trás...
(não estou caminhando neste momento...)
Enquanto mais firme eu piso,
não sei se sólido ou líquido,
mais certeza tenho de estar falseando meus passos...
Enquanto mais perto eu chego,
mais o mar me parece dissonante...
As sombras que os troncos reproduzem,
em quantas pernas devo estar caminhando,
me confundem...
(E tropeço,
quase caio!)
O vento que sopra por todos os lados,
neutraliza meu corpo,
pelo impacto em minha fronte e dorso,
fazendo-me questionar se existo ou não...
Tudo,
em um determinado instante,
parece-me estranho...
Mas num outro,
tenho a absoluta certeza,
de que o estranho,
é a única razão de tudo existir!

segunda-feira, 28 de maio de 2007

ESTÁTUA ( para Carlos Drummond de Andrade)

As pessoas que passam costumam sempre a admirar, 
Àquele senhor,
sentado no banco,
de costas pro mar....
E assim passam-se os tempos, 
Janeiro à Dezembro...
E ele sempre estará lá, 
sentado no banco,
de costas pro mar...

segunda-feira, 21 de maio de 2007

POEMAS I

– A VEIA –
O pulso adormece como uma fruta podre sobre o relógio. / O pulso já não marca nem anuncia nada, apenas espera / no vácuo entre a veia e o ponteiro, / onde uma missa se levanta anunciando sua morte. / Em um determinado instante, / o relógio engana o pulso, / fazendo com que o ponteiro seja mais forte!
– FADO SEXUAL –
Mergulhastes, mergulhastes, / minha solene consciência em tuas tetas negras, / me destes elas pr´eu beijar... / Nós, rolando em incandescentes lençóis, / com que o destino sem medidas nos fez flutuar. / Num pensamento extravasado, / vou acariciando a sua pele nua, / entornando-me em teu corpo, / desejando nunca mais me desprender de ti, / nunca mais... / Com o vinho dos amantes, / vou derramando minha angústia pela garganta adentro, / até eu me desmistificar / dos privilégios que um homem nu e apaixonado pode ter em suas noites / de orgias insensíveis e imperdoáveis... / Mas há tantos lamentos que eu tenho de desmistificar que os próprios / não cabem em minha boca, / não consigo recitá-lo e aclamar a minha angústia, / de ser um homem nu, apaixonado, / se lamentando do seu inexistente solene amor.
– O MENINO E O ÔNIBUS –
(ônibus - omnibus - para todo mundo)
O ônibus corria atrás do menino... / O ônibus era uma esperança mínima, / que no menino de tão pequena não cabia. / O menino sabia que sua esperança era muita / para caber tão pouco ônibus, / com tão poucos corpos distribuídos em tão poucos / assentos iguais... / Em um determinado instante o ônibus parou / e o menino continuou, / sempre!
– MARIANA –
A história daquela cidade / está na inscrição deixada sobre o barro, / pelas rodas de carroças e patas de cavalos. // A história daquela cidade / está nas pedras geométricas / que cobrem tudo o que antes era / estrada de terra... // A história daquela cidade / está nas poças de chuva, / que enlameiam os pés, / as mãos e / as almas / deixadas pelas enchentes passadas... // A história daquela cidade / está em certas censuras, / de homens e mulheres / com suas faces duras, / que ficaram tatuadas / na história daquela cidade, / com patas de cavalos / e rodas de carroças, / deixando sua marca / mais profunda na memória.
Daniel Rodrigues Caldas Féres é poeta. Nasceu no Rio de Janeiro no dia 22 de março de 1983 (daniel_feres@yahoo.com.br).