Uma Cecília quarando ao sol...
Encolhe-se na folha,
encolhe-se na mesa...
De capa cerrada,
indiferente à poesia,
não sabe que existe arte...
Não sabe até mesmo que o mundo existe...
O universo,
O infinito...
Concedo-me um instante,
um instante apenas,
um único instante concentrado
em cada palavra...
Abaixo-me,
descerro-a.
E em silêncio,
como se estivesse diante de mil imagens,
(mil figuras de linguagem...),
lentamente deslizo à mão por sobre estas frases definidas,
estas estrofes seguras,
versos mais-do-que-perfeitos.
Descansados na folha
descansados na mesa...
Ela não sabe,
mas por um segundo,
(por um segundo apenas...)
Uma linda
e delicada Cecília,
inspira-me...
Inspira-me,
para conceber outra Cecília.
Cecília que neste instante canta,
canta dentro do meu coração...
E agora durma,
durma em paz irmã,
Cecília Meireles irmã..
Levanto-me.
Cerro-a.
Apago-o.
Ilumino futura poesia...