segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Uma Cecília (para Cecília Meireles)

Uma Cecília quarando ao sol...
Encolhe-se na folha,
encolhe-se na mesa...

De capa cerrada,
indiferente à poesia,
não sabe que existe arte...

Não sabe até mesmo que o mundo existe...
O universo,
O infinito...


Concedo-me um instante,
um instante apenas,
um único instante concentrado em cada palavra...

Abaixo-me,
descerro-a.

E em silêncio,
como se estivesse diante de mil imagens,
(mil figuras de linguagem...),

lentamente deslizo à mão por sobre estas frases definidas,
estas estrofes seguras,
versos mais-do-que-perfeitos.

Descansados na folha
descansados na mesa...

Ela não sabe,
mas por um segundo,
(por um segundo apenas...)

Uma linda
e delicada Cecília,
inspira-me...

Inspira-me,
para conceber outra Cecília.
Cecília que neste instante canta,
canta dentro do meu coração...

E agora durma,
durma em paz irmã,
Cecília Meireles irmã..

Levanto-me.
Cerro-a.
Apago-o.
Ilumino futura poesia...