segunda-feira, 21 de maio de 2007

POEMAS I

– A VEIA –
O pulso adormece como uma fruta podre sobre o relógio. / O pulso já não marca nem anuncia nada, apenas espera / no vácuo entre a veia e o ponteiro, / onde uma missa se levanta anunciando sua morte. / Em um determinado instante, / o relógio engana o pulso, / fazendo com que o ponteiro seja mais forte!
– FADO SEXUAL –
Mergulhastes, mergulhastes, / minha solene consciência em tuas tetas negras, / me destes elas pr´eu beijar... / Nós, rolando em incandescentes lençóis, / com que o destino sem medidas nos fez flutuar. / Num pensamento extravasado, / vou acariciando a sua pele nua, / entornando-me em teu corpo, / desejando nunca mais me desprender de ti, / nunca mais... / Com o vinho dos amantes, / vou derramando minha angústia pela garganta adentro, / até eu me desmistificar / dos privilégios que um homem nu e apaixonado pode ter em suas noites / de orgias insensíveis e imperdoáveis... / Mas há tantos lamentos que eu tenho de desmistificar que os próprios / não cabem em minha boca, / não consigo recitá-lo e aclamar a minha angústia, / de ser um homem nu, apaixonado, / se lamentando do seu inexistente solene amor.
– O MENINO E O ÔNIBUS –
(ônibus - omnibus - para todo mundo)
O ônibus corria atrás do menino... / O ônibus era uma esperança mínima, / que no menino de tão pequena não cabia. / O menino sabia que sua esperança era muita / para caber tão pouco ônibus, / com tão poucos corpos distribuídos em tão poucos / assentos iguais... / Em um determinado instante o ônibus parou / e o menino continuou, / sempre!
– MARIANA –
A história daquela cidade / está na inscrição deixada sobre o barro, / pelas rodas de carroças e patas de cavalos. // A história daquela cidade / está nas pedras geométricas / que cobrem tudo o que antes era / estrada de terra... // A história daquela cidade / está nas poças de chuva, / que enlameiam os pés, / as mãos e / as almas / deixadas pelas enchentes passadas... // A história daquela cidade / está em certas censuras, / de homens e mulheres / com suas faces duras, / que ficaram tatuadas / na história daquela cidade, / com patas de cavalos / e rodas de carroças, / deixando sua marca / mais profunda na memória.
Daniel Rodrigues Caldas Féres é poeta. Nasceu no Rio de Janeiro no dia 22 de março de 1983 (daniel_feres@yahoo.com.br).

Nenhum comentário: