sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

O Depoimento De Um Matuto

"Já são duas das matina
e já não moro mais na roça...
Moro é numa ladeira bem grande,
cá na cidade,
bem cumprida...
E de baixo da janela minha,
todas as noite,
nas arta das madrugada,
escuto um trem parecido como um véi á tocar os boi:
"Entra Salvador, passa Estrela...
Entra Estrela, passa Salvador...
oouu, oouu, oouu..."

Ah,
se não existisse a chatura desse véi,
e os raio desses boi,
a ladeira seria muda,
a noite seria surda,
e eu adormia  assossegado...

Mas as roda desse trem
atritanu,
atritanu,
atritanu...

Atritanu sobre os paralelepípedo,
mais as fala desse cabra,
juntando com os mugido desses boi,
é um trem que irrita,
e como irrita sô!

Mais parece os piô dos lamento,
as piô das cantiga...
Desde que eu arresolvi se aposentá
 e se mudei da roça,
na cidade vim morá,
e nessa ladeira vim pará.
Parece que esse véi,
parece que essa carroça,
parece que essa tar de Estrela
e parece que esse tar de Salvador me persegue...

De repente acordo,
abro a janela,
dou só uma espiadinha lá fora,
e a mardita torna a ficá vazia,
torna a ficá silenciosa...
Depois torno a fechá,
botu cardeado e tudo
e o rai da zueira só parece aumentá...

Vai crescenu, crescenu, crescenu, crescenu...
"Entra salvador, passa Estrela, entra Estrela, passa Salvador
 oouu, oouu, oouu,oouu, oouu..."

Ah, má que destino é de nóis
que já não vive mais na roça
e que se muda prá cidade
só em busca de assossego...
má que desgrama sô!
"Entra Entrela,
passa Salvador,
passa Estrela,
entra Salvador,
 oouu, oouu, oouu, oouu, oouu...”

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