terça-feira, 23 de julho de 2024

A veia

O pulso adormece, 
como uma fruta podre sobre o relógio.
O pulso já não marca, 
nem anuncia nada. 
Apenas espera,
no vácuo entre a veia 
e o ponteiro,
de onde uma missa se levanta anunciando sua morte. 
Em um determinado instante, 
o relógio engana o pulso,
fazendo com que o ponteiro seja mais forte!

O menino e o onibus

O ônibus corria atrás do menino. 
O ônibus era uma esperança mínima 
que no menino, 
de tão pequena não cabia. 
O menino sabia que sua esperança era muita,
para caber tão pouco ônibus, 
Com tão poucos corpos, 
Distribuídos em tão poucos assentos iguais.
Em um determinado instante,
O ônibus parou, 
E o menino continuou...
Sempre!

quinta-feira, 18 de julho de 2024

A Pata

A solidão é a pata de um elefante,
De um hipopótamo, 
  de um rinoceronte presionada por sobre o corpo de um homem. A solidão, é esse homem estirado na arena, no picadeiro, tendo o corpo triturado pela a pata por inteiro... Uma pata pesando infinitos quilos. Que, por assim pesar, torna o homem nulo, Ferrado na arena e ferrado no picadeiro... E se pode ver o sangue jorrando do cérebro... Uma coisa que não pára de drenar e drenar e drenar e drenar... A solidão dá pulos e saltos de alegrias e divertmentos no momento em que o animal pesando mais, bem mais, muito mais do que infinitos quilos, sistematicamente martela e marreta a sua cabeça. Fazendo com que esse martelar e marretar, anule todo o cérebro. A solidão é a dor sistemática, eterna, infinita E infernal Gerada pelo elefante, hipopótamo,rinoceronte que não pára de evoluir jamais Por sobre o corpo nulo desse ser nirvanado, por sob o peso que lhe esmaga por inteiro... Tornando-o assim, um nada... Esse nada que sempre foi, que sempre é, e que sempre será, desde o inicio...

domingo, 14 de julho de 2024

Chuva e pranto

 Chovia tanto um dia

Que ninguém via

E tão pouco percebia

Que eu chorava,

O quanto,

Muito menos eu...

As águas disfarçavam todo o pranto meu,

Fazendo com que as lágrimas

Sumissem todas elas na chuva que caía...

Era tanta água

Que  quando eu chorava

ninguém notava,

Nem mesmo eu.

As lágrimas se escondiam

Sob àquelas águas no dia em que choveu.

Era muito o pranto,

Mas chovia tanto

Que a minha dor morreu...

quinta-feira, 11 de julho de 2024

Um Clarinetista

Em frente à farmácia,

Tem um clarinetista tocando mil canções...

O som do seu instrumento me dá a impressão

Que só assim,

O tempo passa de forma mais leve.

E eu apenas fico escutando...

O clarinete não me distrai nenhum segundo das minhas funções,

Apenas impõe um ritmo novo ao tempo e ao espaço.

As músicas invadem toda a loja,

E eu tento adivinhar o que ele toca.

Ele usa uma boina quadriculada,

Senta-se num banquinho 

E concentra-se. 

Às vezes se vira para o lado,

Sorri

E acena para mim...

De coração,

Eu agradeço ao clarinetista...

Ele continuará ali,

Sentado em seu banquinho,

Tocando o seu instrumento,

Com a sua boina quadriculada,

Dando ao meu trabalho na farmácia,

Uma alegria encantada!