Vivias entre caixas,
dormias sobre sacas...
Dormias
e vivias
a cima,
bem a cima...
A pele brilhava,
balouçava sob a mínima brisa...
Brilhava
e balouçava,
com o minúsculo vento
que adentrava,
à mínima
e minúscula fresta da imensa porta de ferro...
porta que hora se abria
ferro que hora se fechava.
Tinha apenas
e sempre,
um dos olhos cerrados,
e um sorriso leve de lado,
(sempre muito irônico...)
Vivias infinitamente alto
superior a qualquer humano...
Enquanto em baixo,
rente ao chão de terra,
homens digladiavam-se....
Suores escorriam pelas testas,
sangues pelos semblantes,
(tão graves,
tão tristes...)
Suores misturavam-se com sangue fervente,
no duelo,
de quem possuía mais,
quem possuía menos,
quem dava mais,
quem dava menos,
quem tirava mais,
quem tirava menos...
Enquanto isso,
o felino,
(comerciante de sucesso,
empresário de talento...)
Vivia de brisa...
Enchia os pulmões
e levemente sorria...
Enquanto outra varria
os pêlos cinza...
Era apenas um bichano,
animal inofensivo...
Já os outros,
esses não.
Esses eram gatunos,
seres sem estirpe...
O tempo transcorria como locomotiva,
e os homens digladiavam-se na arena
capitalista...
Arrancando-se a si,
arrancando-se a si em vão...
E do alto o gato,
hora abria um olho,
hora cerrava o outro...
Sorria no canto dos lábios,
ria com a ponta dos bigodes...
(sempre muito baixinho...)
Sorria
e ria,
sonhando
e delirando,
com outro mundo,
com nova humanidade...
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