sábado, 31 de maio de 2025
A História dos Gansos (Para Wesley Correia de Andrade)
Vivíamos no terreiro,
la na fazenda dos seus pais...
A fazenda era pequenininha,
pobre,
mas rica de sentimento...
(E o que importa é mesmo,sempre o sentimento...)
Tinha lá,
tres ou quatro gansos
grandes,
pretos,
brancos,
coloridos.
O meu tio os pagava
e os colocava para correr atrás da gente...
Os animais corriam,
e inocentemente bicavam as nossas bundas!
A gente sentia apenas uma pequena e leve dorzinha...
Tudo muito suportável!
Enquanto isso,
o meu tio,
ficava em pé no meio do terreiro,
de braços cruzados,
morrendo de rir...
(Ah,
como ele gargalhava!)
Nós morríamos de medo,
um medo tão inocente...
Um medo que toda a criança
às vezes sente!
E os gansos continuavam a nos
morder, morder, morder e morder...
e o meu tio
a gargalhar, gargalhar gargalhar e gargalhar...
Eu,
até hoje,
passados muiitos anos,
sem nenhum sentimento de revolta,
eu ainda cobro:
“Bota ganso pra morder
o seu rabo,
Ô filho da puta!”
Vô (Para Fernando Sérgio Rodrigues Caldas)
Ah,
eu me lembro muito bem,
E como!
Ele voltava do trabalho
Ou da roça
Com seu fusca vermelho ou branco
E o estacionava na garagem...
Meu avô era um homenzinho baixo,
De um pouco mais de um metro e cinquenta
Barrigudo,
Mas com o coração de ouro operado...
Vovô entrava em casa,
Em Muriaé
Cidade cheia de mulher...
Colocava a sua bolsa marrom em cima da mesa
Junto com as chaves do carro,
Virava o seu rosto,
Olhava para mim,
Sorria
E assoviava...
Depois ele se deitava na sua cadeira predileta
Da sala,
Em frente à TV,
Esticava as pernas
E em seu peito eu me deitava.
(O peito do vovô era velho e cabeludo...)
Mas era tão gostoso,
Tão macio,
Tão quentinho,
Ele acariciava os meus cabelos
E na maioria do tempo mantínhamos calados,
Muito calados...
Segundos depois,
Ele docemente se virava para mim
E me falava:
“Dadá,
Bota a cabeça deste lado do meu peito,
Porque o outro é operado...”
E eu botava...
Segundos depois,
Nós ríamos,
Sorríamos
E ele continuava a acariciar os meus cabelos,
Tão negros...
Depois eu fechava os olhos,
Fingindo dormir,
(Eu sempre fui um perfeito fingidor...)
E ele continuava a acariciá-los.
Que momento!
Que gostoso!
Ah,
Carinho de vovô realmente não tem preço!
Depois crescemos,
envelhecenos,
O tempo passou,
E eu ja não cabia no peito do vovô.
(Ah,
Que pena...)
Hoje,
passados tantos anos,
eu ainda questiono:
“Porque Diabo mesmo,
Deus criou a morte...”
sexta-feira, 30 de maio de 2025
Para pelo menos um sobrinho (Para Lucas Féres)
Lucas:
vem cá.
Deita aqui comigo.
Chamega com o seu tio,
chamega...
Voce e tao gotoso!
Agora feche os olhinhos,
deixa eu passar as mãos sobre seus cabelos, tão negros,
tao lindos.
Ouça o silêncio.
Sabia que o silêncio também fala...
Nossa,
você é o presente
que Felipe e Isabel me deram..
Imagine se nesse teto tivesse mil estrelas! Que maneiro!
Estaríamos nós dois flutuando no espaço... Iiii vovó Lili vem ai..
Conde,
conde,
conde,
conde aqui...
Agora apague a luz,
vamos cobrir,
vamos dormir...
Quietinho,
shiiii...
Inicio de Namoro
Ah,
Que passeio mais gostoso à beira-mar...
Dê-me suas mãos...
Vamos juntos,
Caminhar...
Fale-me um pouco de você.
O que você gosta,
O que você curte.
Quero saber,
Quero saber tudo...
Seus sonhos,
Seus desejos,
Seus hobbys,
Seus amores,
Seus medos...
Olha esse mar,
Que lindo!
Esse mar parece uma orquestra,
Esse mar me lembra música de Tom Jobim...
Chega de Saudade,
Talvez...
Eu amo música e poesia...
Meu preferido é João Bosco:
“O Amor Quando Acontece...”
Desculpe,
Foi mal,
Foi uma piada
É brincadeira,
Tô zoando...
Depois vem Chico, Caetano
Um pouco de Caymmi,
Afinal,
Estamos á beira-mar...
Olha que lua linda!
A lua ilumina a areia,
A praia,
O mar,
E o nosso caminhar...
Poesia eu gosto de Drummond sempre,
Drummond em primeiro lugar,
Depois vem Bandeira, Cecília, Quintana, Jorge de Lima, João Cabral...
Aí:
“Morte e Vida Severina” é foda,
Muito foda!
Já leu,
Se não,
Vai ler...
Ah,
Eu sou um cara legal,
É sério...
Sou apenas um pouco gago,
Um pouco vesgo,
Com algumas pequenas dificuldades
E limitações,
Tudo que não dê para resolver...
Está ficando escuro,
Muito escuro
Já é noite,
Está frio,
Muito frio!
Sabe,
Ali na orla,
Depois daquela curva,
Tem um motel,
Que tal...
Desculpa,
to brincando,
Foi mal...
Para um amor que acaba de brotar
Olha:
Uma rosa nasceu na rua!
(Sempre Drummond!)
Chega aqui, chega aqui, chega aqui,
mais perto.
Se abaixe aqui comigo,
calada,
shiiiii...
Passe bem de leve e lentamente
as mãos sobre as suas pétalas,
e sinta de leve o cheiro,
deve ser jasmim...
Nossa,
que rosa mais linda!
Eu nunca vi coisa linda assim...
Podemos ficar segundos, minutos ou até mesmo horas
acariciando e cheirando essa rosa.
Depois,
de leve e lentamente,
tiramos as nossas mãos desta rosa,
olhamo-nos profundamente,
damo-nos as mãos,
sorrimos,
chegamos mais perto os nossos lábios
um do outro
e nos beijamos de leve e aos poucos...
Estou achando que um amor brotou!
quarta-feira, 28 de maio de 2025
Um Bar à Beira-Mar
Ali,
à beira-mar,
existe um bar.
Podemos sentar e conversar um pouco,
que tal...
Podemos pedir dois chopes
e um montão de pastéis.
Eu falo um pouco sobre mim,
e você fala um pouco sobre você.
Olha que lua linda...
Importa-se se eu fume...
Eu gosto às vezes de parecer romântico...
Eu lhe conto meia dúzia de mentiras
e meia dúzia de verdades.
Você também
E nós acreditamos plenamente um no outro.
Nossas mãos aos poucos,
de leve
e bem lentamente se aproximam,
se entrelaçam...
Você me sorri
e eu te sorrio...
Contamos meia dúzia de piadas,
de besteiras
e rimos um do outro...
Depois,
lentamente,
mais uma vez,
nos aproximamos,
nos abraçamos,
nos beijamos,
e não falamos mais nada,
absolutamente nada...
(Um silêncio completo...)
Viu,
como amar é fácil...
terça-feira, 27 de maio de 2025
No teatro (Para Julia Bosco)
Eu sentando ali,
no lado direito,
em cima do teatro,
alem do palco,
bem no fundo,
no fim de tudo,
assistindo ele,
num claro-escuro,
tocando e cantando muito.
De repente,
de relance
eu vejo uma moça linda,
ali,
no lado direito do palco,
bem na ponta,
alegre
sorrindo,
sambando,
sonhando,
acompanhando com o seu passo,
todo o conjunto.
Eu ficava sentado sozinho numa mesa
no teatro
bem em cima
bem ao fundo,
no fim de tudo,
grave, sério, triste e cabisbaixo,
de olhos vazios,
quase chorando,
pensando comigo
e sozinho
em todos os meus erros.
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