quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025
O Filho Que Eu Não Fiz
Cortar,
castrar,
capar a possibilidade desta alegria.
Cortar,
castrar,
capar a possibilidade desta felicidade.
Simplesmente cortar,
castrar,
capar,
evitar a criação.
Quantos beijos,
quantos abraços,
quantos carinhos,
quanto amor,
quanta paixão,
quanta alegria,
são retirados,
são evitados,
são negligenciados
ao cortar,
ao castrar,
ao capar uma parte minha.
Ah,
àquelas noites mal dormidas.
Acordar de madrugada
para embalar,
ninar o meu filho.
Tomá-lo,
tê-lo nos braços,
sentir o cheiro de talco,
de leite-de-rosas.
ouvir o riso,
ver o sorriso
estampado na face angelical.
Depois vê-lo crescer,
engatinhar,
balbuciar,
falar,
andar,
correr...
Abraçá-lo,
beijá-lo,
ouvir o seu riso tão doce,
tão gostoso...
Ver
e ouví-lo chorar...
Acalentá-lo,
consolá-lo
nos momentos de dor.
Tomá-lo pelas mãos,
sair por aí,
sem hora para chegar.
Passear no parque,
vê-lo brincar.
Tomar um sorvete,
chupar um picolé,
comer um biscoito,
um algodão doce...
Ser ele,
o meu filho tão querido
e tão amado.
Mas a vida,
as circunstâncias,
fazem-me cortar,
fazem-me castrar,
fazem-me capar,
fazem-me evitar a possibilidade de ter,
de ser
e de criar.
Eu nunca vou ter essa felicidade,
essa alegria.
A felicidade
e a alegria de ouvir o choro primeiro do meu filho
saindo do ventre da companheira.
Colocá-lo no berçário,
vê-lo dormir.
Ver pela primeira vez o seu rosto,
o seu corpo rosado...
Ver pela primeira vez,
o seu sorriso,
o seu riso...
Depois levá-lo para casa,
amá-lo.
zelar por ele,
estar por ele,
ser por ele.
Mas a vida achou melhor cortar,
castrar,
capar essa possibilidade.
O filho que eu não fiz,
vive no vão,
vive no vácuo,
vive na brisa,
vive à deriva.
Cortar, castrar, capar essa felicidade...
Cortar, castrar, capar essa alegria...
Simplesmente cortar, castrar, capar!
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