terça-feira, 27 de agosto de 2013

A Moça do Outro Lado (Para Fernanda Aguiar)

A moça atravessou a rua como se atravessasse o mundo!
Porque?,
Para que?
Porque
e para que uma moça atravessaria a rua para me falar?
Logo comigo,
tão sem brios...
Solitário e vazio,
vadio na mesa de um bar...

 Eu não sou nada,
eu não possuo nada,
não posso ter,
nem ao menos posso ser...
Eu cá com meu botões,
tão bêbados...
Recolhido em minha total insignificância
 e irrelevância,
tomando cerveja sozinho na mesa...

Vem a moça,
 atravessa a rua...
Vem-me e atravessa-a,
como se atravessasse o mundo para me sorrir...
Penso que ela desejará xingar-me,
socar-me,
escarrar-me,
lançar-me seus cães,
virar-me as costas calada
 e calada sair...

E penso,
que é justamente isso o que eu mereço...
Eu não mereço nada além de seu desprezo,
nada além de uma raiva transparente
e de um ódio ignorante...

Mas não,
ao invés disso,
a moça atravessa a rua
e mostra-me o seu sorriso,
(um semblante feliz...)
Será que não vê que sou apenas um fantasma?
Fantasma
sem amantes,
sem amores,
sem amigos
e sem conhecidos,
na mesa de um bar,
solitário
e tão sem brios...

A irrelevância de minha insignificância,
comparada à sua extrema importância,
superioridade
e altivez,
a ela chega a ser ameaça...

Mas a moça atravessou a rua para me falar,
a moça atravessou o mundo para me sorrir,
a moça atravessou-me mesmo assim...
Para nunca mais,
nunca mais...

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